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Morrer e renascer no Oeste americano | Crítica O Regresso (2015)

04 fevereiro 2016

"As long as you can still grab a breath, you fight. You breathe... keep breathing." - Hugh Glass

É com esse chamado à permanência da vida, proferido na língua dos Pawnee, povo indígena norte-americano, que o espectador tem o primeiro contato com o épico O Regresso, dirigido pelo mexicano Alejandro Gonzaléz Iñárritu.

A trama central do filme é a viagem do explorador norte-americano Hugh Glass (Leonardo DiCaprio), que durante uma expedição de caça sofre um ataque de urso, deixando-o gravemente ferido. Declarado morto pelo grupo que o acompanhava e abandonado a própria sorte, Glass começa uma dupla jornada: sobreviver aos ferimentos e obstáculos impostos pela natureza gélida e também concretizar sua vingança, nem que para isso fosse necessário cruzar o desconhecido Oeste americano 
dos anos 1820 para punir os que o deixaram para trás.


Perguntado em entrevista sobre a veracidade dos episódios apresentados no filme, que tornaram o explorador sobrevivente uma lenda dos Estados Unidos do século XIX, Iñárritu informa que ainda pouco se sabe sobre Hugh Glass, uma vez que as fontes documentais são escassas. O grande mérito do diretor, nesse caso, foi conseguir sair do ponto de partida de uma história de sobrevivência e vingança pura e simplesmente para oferecer ao espectador uma experiência altamente estimulante aos nossos sentidos, capaz de nos colocar tão próximos daquele mundo a ponto de sentirmos na pele o drama e as dores do protagonista. 

O Regresso, para alcançar esse nível de imersão, contou com um Leonardo DiCaprio inspirado, que deu carne, osso e o próprio sangue a um dos papéis mais emblemáticos de sua carreira. Vale destacar também a qualidade do elenco coadjuvante, apenas citando o trabalho de dois deles: o britânico Tom Hardy interpretando John Fitzgerald, personagem essencial para entendermos as motivações de Glass, e o irlandês Domhnall Gleeson como capitão Andrey Henry, chefe da expedição fracassada.


Iñarritu adotou um sistema que exigiu dos atores atenção máxima do início ao final das gravações. Para satisfazer sua opção de filmar em locações reais utilizando apenas a luz natural, tanto elenco e equipe técnica foram expostos a condições climáticas extremas, longas viagens para gravações que não duravam mais de duas horas. Esse esforço sobre humano para a realização de O Regresso recompensa o público, absolutamente imerso em imagens de beleza plástica e ao mesmo tempo imbuídas de poesia visual. 

O filme possibilita também uma reflexão sobre o homem em processo de civilização e as consequências do seu instinto destrutivo, em constante ataque à natureza, aos animais e aos povos antigos. Sobre este último, o filme tem um discurso raro em produções mainstream. Os povos indígenas não são demonizados, tampouco ingenuamente romantizados. Estes carregam a marca do genocídio imposto pelos povos invasores, porém preservam a altivez e a sabedoria cósmica que escapa ao homem civilizado, tão cheio de si com suas armas, seus cavalos e sua ganância, mas pequenos diante uma natureza implacável, que nos lembra: somos apenas mais um no meio de tantos outros organismos.

Nota: 9/10

Confira o trailer abaixo:



Resenha escrita pelo cinéfilo e bacharel em Audiovisual Lucas Nakamura.

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Vanessa. Paraibana, leonina, amante dos animais e de homens com cabelos compridos. Isso é basicamente tudo que você precisa saber sobre mim, o resto você descobre nas páginas do blog. ♥

 
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