> Perhappiness: Você também é culpado pela mulher que apanha na casa ao lado | Crítica Spotlight: Segredos Revelados, 2015
         
 

Você também é culpado pela mulher que apanha na casa ao lado | Crítica Spotlight: Segredos Revelados, 2015

08 janeiro 2016


Hoje a resenha de Spotlight vai ser diferente das tradicionais (e qualquer coisa diferente disso não seria digna o bastante). Eu poderia dizer que esse é um filme sobre a corrupção das instituições religiosas, sobre a pedofilia acobertada pela Igreja Católica e sobre o abuso sofrido por números inestimáveis de criança. E eu estaria falando a verdade em todos os casos. 

Mas esse filme também é mais: ele é sobre você que prefere virar para o outro lado

Ninguém quer ser culpado pela doença do mundo. Ninguém quer acreditar ser parte do problema. Todos procuram pela torneira mais próxima onde podem lavar as próprias mãos.

"Se tivessem 90 desses desgraçados por aí, as pessoas saberiam".

"Talvez elas saibam".
Estima-se que mais de 1500 crianças - apenas na cidade de Boston - foram molestadas por padres e que estes foram protegidos pela Igreja Católica. A notícia agita alguns bichos lá nas nossas entranhas.
Num país tão católico quanto o Brasil, a vítima poderia ter sido qualquer um de nós. E talvez você pudesse ter feito alguma coisa para evitar.

Durante o processo investigativo da Spotlight, equipe de jornalistas do Boston Globe, eles se defrontam com dezenas de denúncias e depoimentos dolorosos. Tão dolorosos que se agarram à esperança de nada ser verdade. Vítimas são desacreditadas, o estupro e a pedofilia são diminuídos pela sociedade e a irritante pergunta surge na tela do cinema: você quer mesmo comprar essa briga? Incomodar a Igreja em cima de suposições? Confiar na palavra de pessoas desequilibradas?


"É preciso uma vila inteira para educar uma criança; é preciso uma vila inteira para abusá-la"

Por um milagre - ou mais especificamente pela presença fundamental de um estrangeiro - as investigações continuam e as provas de que as pessoas "desequilibradas" estavam falando a verdade não demoram a aparecer. Juntamente com elas, a consciência de que tudo aquilo poderia ter sido exposto há décadas atrás e o sofrimento de incontáveis famílias seria poupado no caminho.

Pra você essa pode ser apenas uma história de ficção (baseada em fatos reais), mas pra mim ela é mais real do que você imagina. Eu vejo essa história acontecer todos os dias, em todos os lugares.

"você tem certeza que não entendeu/ouviu errado?"; "mas ele é um cara tão bom, tenho certeza que foi só um deslize"; "vai querer colocar tudo a perder por causa de um único erro?"; "tenho certeza que isso nunca mais vai acontecer"; "se resolver contar, no final quem vai ficar exposta é você e a sua família"; "eu prefiro não opinar"; "melhor vocês se resolverem sozinhos"; "em conversa de marido e mulher ninguém mete a colher"; "não dá pra acreditar em tudo que mariazinha fala, ela tá mais pra lá do que pra cá"; "o melhor que a gente faz é fingir que não sabe da história"; "se a pessoa se colocou nessa posição deve ser porque gosta".

Se você não é parte da solução, você é parte do problema.

  
Esse filme veio pra incomodar e ele cumpre o que promete.

Nota: 9/10

(em breve no blog teremos uma parte II da reflexão acerca do filme focando no papel dos jornalistas na nossa sociedade atual).

Um grande beijo e até já!

Me acompanhem também nas redes sociais:

0 comments:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Vanessa. Paraibana, leonina, amante dos animais e de homens com cabelos compridos. Isso é basicamente tudo que você precisa saber sobre mim, o resto você descobre nas páginas do blog. ♥

 
Perhappiness © Todos os direitos reservados :: Ilustração por Brenda S. Pauletti :: voltar para o topo