eu abro meus olhos e o gigante de cabelos vermelhos está em cima do meu peito desejando bom dia e me dando uma previsão de como será o resto do dia
- será doído -
meus ossos sofrem com o peso do seu corpo minha cabeça grita com o martelo que ele lhe enfia meus olhos choram com a lembrança dos fantasmas que vieram enquanto eu dormia
eu fecho os olhos eu me embrulho toda eu puxo o cobertor debaixo dele eu peço com carinho peço com firmeza peço com brabeza ele ri de mim mas meu telefone toca e o meu amor pede pra eu colocar o gigante na linha
(não sei o que eles conversam, mas...)
o gigante se retira e eu finalmente inspiro
- forte -
eu sinto meus pulmões se contorcerem e eles me falam que estão desaprendendo a falar devido a tanta falta de prática. "as juntas já não são mais as mesmas", eles me dizem. e eles se espreguiçam e se esticam e se contorcem e se alongam e
não decidi ainda como batizar o novo monstro que chega, mas sei que ele é diferente de qualquer coisa que nós temos no nosso imaginário em comum, então preciso da total atenção de vocês:
o novo monstro tem formato de balão e é feito de transparência e me beija na boca. ele fica lá com a boca colada na minha e quando eu falo ninguém o vê, mas ele sempre está aqui nos meus lábios e nariz.
é ele quem rouba meu respiro ao longo do dia
de manhã ele é um balãozinho aí eu vou respirando e ele vai sugando e eu vou inspirando e ele inspira primeiro e eu vou expirando - o pouco que não veio - e ele me rouba até o expiro
vai sendo assim até que o sufocamento me consome meus pulmões estão em estilhaço e ele permanece inflado com todo aquele ar que me era reservado
mas também tem vezes que varia um pouco: ele cansa de mim e me joga na piscina.
(um dia ele gosta de me ver sufocando e no outro prefere me ver afogando)
as vezes ele se enche de água me faz respirar a água da sua boca me coloca embaixo do chuveiro cria um campo de força líquido em volta de mim.
quando eu tenho sorte eles me dão 1 horinha de folga entre o fim da tarde e o início da noite. eu durmo em todos os momentos de folga. e acordo, mais uma vez, pra me deparar sempre com o gigante sentado no meu peito me espancando com o peso da culpa que um sonho em horário inadequado carrega
por fim,
"quando chega a noite,
a escuridão,
o nada"
...
eles me deixam às sós com meus próprios demônios
e isso é quando eu tenho um daqueles bons dias.
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