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Sobre Banksy e a Arte de Rua

08 abril 2014

A Arte que vemos é feita apenas por poucos selecionados. Um pequeno grupo cria, promove, adquire, exibe e decide o sucesso da Arte. Apenas umas poucas centenas de pessoas ao redor do mundo têm voz ativa. Quando você visita uma galeria de Arte você é apenas um turista observando a vitrine de troféus de uns poucos milionários. (BANKSY, 2005, p.144)
           Aqui em Brasília, sendo por falta de opção ou não, fato é que os adolescentes costumam sair bastante pra programas "mais cults", principalmente aqueles gratuitos que rolam no CCBB. É por isso que desde muito nova eu comecei a me familiarizar com a arte de rua e com alguns dos maiores expoentes mundiais como Os Gêmeos (São Paulo) e Banksy, o que muitos consideram como o maior artista de rua de atualidade.

           Hoje em dia eu sou completamente e irrevogavelmente apaixonada não só pelo Banksy, mas também pela arte de rua em geral, que, na minha opinião, deveria ser muito mais valorizada do que é de fato. E sabendo que poucas pessoas conhecem esse artista, hoje vou apresentá-lo para vocês!


Banksy em seu documentário "Exit Through The Gift Shop" com o rosto encoberto
            A genialidade de Banksy já aparece no momento das apresentações: ele é um artista anônimo. Ninguém conhece sua verdadeira identidade (apesar das especulações que aparecem sempre aqui e ali). Dessa forma ele se mantém fora do alcance da "represália policial".
            
             Uma vez que a arte da rua está sempre brincando com o limite entre o legal e o ilegal, esses artistas eventualmente sofrerão pelas consequências em algum momento posterior. Banksy, ao se tornar anônimo, se abstém dessa possibilidade e faz com que sua voz automaticamente ganhe uma força sem limites. Já que a polícia não consegue identificá-lo, ele não precisa tomar o mesmo cuidado que outros artistas sobre o que falar ou aonde falar. Quem está mais familiarizado com a obra desse artista sabe que ele já assumiu riscos enormes ao se aventurar por lugares como o Muro de Gaza e o famoso Disney World para expor suas críticas.


             E crítica, aliás, é algo que nunca é demais para o Banksy. Ele tem um discurso muito forte contra o sistema capitalista, as injustiças e desigualdades sociais, às pessoas hipócritas que possuem um discurso "revolucionário" (mas que nunca passam do discurso mesmo) e aos Estados Unidos, como representante principal de tudo isso.
        
              As quatro imagens selecionadas acima ilustram de maneira bastante realística o seu posicionamento. Na primeira imagem nós temos, à esquerda, a imagem do Mickey Mouse – um dos maiores símbolos do entretimento infantil – e Ronald McDonald – personagem criado por uma das maiores redes de comida do sistema capitalista mundial para atrair o público infantil – segurando os braços de Kim Phuc. A imagem de Kim foi retirada de uma fotografia no dia que os Estados Unidos jogaram uma bomba de Napalm no Vietnã e Kim, com nove anos na época, saía pela rua, nua e gritando de desespero. Enquanto ela chora, Mickey e Ronald acenam e sorriem olhando na nossa direção. Eles são, como símbolos do sistema em que vivemos, responsáveis pela dor de Kim. Banksy não permite que nos esqueçamos desse fato.

                Ao lado dessa imagem temos um Jesus Cristo crucificado ainda segurando suas sacolas de compra. Em uma qualidade melhor, podemos ver que dentro de uma das sacolas que carrega encontra-se um boneco de Mickey Mouse. Aqui Banksy procura criticar o consumismo desenfreado que acontece durante a época do Natal e como até as datas religiosas se transformaram em um objeto capitalista. 


          Já na linha debaixo temos um casal se divertindo em um passeio às custas da exploração infantil e, ao lado, uma fila de pessoas esperando para comprar uma blusa vermelha com os dizeres “Destrua o Capitalismo”. Em seu livro (Guerra e Spray), Banksy fala:
“Parece que as pessoas sempre pensam que, ao se vestirem como um revolucionário, elas não precisam agir como um de fato.
            Outro símbolo muito presente nas obras do artista é o rato, que sempre aparece com mensagens irônicas, protestando contra o governo, ou em situações cotidianas similares às vividas pelos artistas de rua.


“Eles existem sem permissão. São odiados, caçados e perseguidos. Vivem no lixo em um desespero silencioso. E, mesmo assim, são capazes de fazer com que civilizações inteiras caiam de joelhos. Se você é sujo, insignificante e indesejável, então os ratos são o seu melhor modelo de comportamento.” (BANKSY)
            Banksy enxerga uma grande identificação não apenas pessoal com esse animal, mas também a amplia para todos os artistas de rua. O rato é aquela figura histórica que sempre foi indesejada pela sociedade, sempre foi perseguida e caçada numa tentativa de exterminá-los por completo, mas por décadas a sociedade continua falhando no seu objetivo. Por mais perseguidos que os ratos sejam, eles continuam voltando, aparecendo e reaparecendo nos lugares mais inesperados. Eles são temidos. Eles estão à margem da sociedade da mesma maneira que a arte de rua está à margem do circuito artístico tradicional. 

           Nos desenhos de Banksy os ratos são os portadores da voz insatisfeita com o governo, insatisfeita com a situação social atual. Ele incita a revolução através de pensamentos extremamente irônicos e afiados. Em uma das imagens acimas podemos ler os dizeres “If graffiti changed anything it would be ilegal”, o que traduzindo para o português seria algo parecido com “Se o grafite mudasse alguma coisa, ele seria ilegal”. E, de fato, o grafite é ilegal porque ele é capaz de causar uma mudança na estrutura da sociedade. E esse é um risco que o Estado não quer correr.

          Outro animal bem recorrente é o macaco, que é usado tanto para levantar a discussão acerca da exploração animal (à qual o artista também se opõe) quanto para ironizar a respeito de alguns comportamentos humanos que estão se tornando cada vez mais irracionais. Banksy dá a entender em algumas de suas obras que, se as coisas continuarem como estão, acontecerá uma inversão de valores e os macacos que serão os seres racionais da sociedade.


            Espero que esse post tenha sido o suficiente para vocês começarem a conhecer e se interessar pelo trabalho do Banksy e por essa forma de arte em geral. Claro que aqui eu só mencionei alguns pontos principais da obra do artista, que está em atividade há mais de duas décadas e portanto possui um portfólio muito vasto que seria impossível de ser abordado na íntegra. Se vocês tiverem vontade de se aprofundar mais no assunto de e compreenderem melhor as implicações, possibilidades e contrariedades que a arte de rua permite, eu recomendo FORTEMENTE que vocês assistam o filme do Banksy: Exit Through The Gift Shop, disponibilizado na íntegra e legendado no youtube (clique aqui). 

Um grande beijo e até já!



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3 comments:

  1. CARAMBA.
    Estou sem palavras esse cara é fantástico/sensacional e eu já conhecia algum dos trabalhos dele mas não sabia que era dele omg UIHAUIEHAUEHAUE
    E muito boa sua análise sobre a arte de rua do Banksy, seila cara... Tô sem palavras

    ~nathália novikovas
    Confira a nova resenha em Livroterapias

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  2. Adooooroo o Bansky! Ele ar-ra-sa!!!

    Estudei sobre ele numa matéria que fiz de ilustração na faculdade :)

    Um Metro e Meio de Livros

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  3. Voltando a comentar só para te cobrar mais posts sobre música. Eu adorava! :)

    beijos!

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Vanessa. Paraibana, leonina, amante dos animais e de homens com cabelos compridos. Isso é basicamente tudo que você precisa saber sobre mim, o resto você descobre nas páginas do blog. ♥

 
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